Dispareunia (Dor no sexo): Sintomas, causas e tratamentos

O que é dispareunia?

A dispareunia é a dor durante o ato sexual ou até mesmo na tentativa de realizar o ato. É mais comum em mulheres, mas também pode ocorrer em homens.

Um estudo recente feito pela Revista Menopause em 2018 evidenciou que 40% das mulheres sofrem de dispareunia.

É importante ressaltar que a dispareunia não é uma doença, ela é um sintoma de dor que pode ter uma doença como base.

Por exemplo, a endometriose é uma doença inflamatória que pode ter como consequência a dor durante a relação sexual.

Dessa maneira, se a doença que causa a dispareunia for tratada a dor desaparecerá.

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Quais são os sintomas da dispareunia?

A pessoa pode apresentar dor em qualquer fase da relação sexual. Desde a fase de excitação, durante algum momento do ato sexual ou mesmo depois do sexo.

Essa dor pode variar de característica, desde pontadas, ardência, até queimação e sensação de pressão.

Como é difícil mensurar a dor de cada pessoa, o relato de quem sofre é o fator clínico mais determinante.

Por isso, um exame feito por um profissional capacitado é fundamental, quando são analisadas em quais situações o paciente relata sentir dores.

Tipos de dispareunia

A  dispareunia pode ser classificada como de entrada, superficial ou profunda, ou seja, estando relacionada a sua localização, no momento em que esta ocorre.

Também pode ser de origem primária (quando ocorre desde o início da vida íntima), ou secundária (após um evento específico ou uma fase da vida).

Além disso, também tem a situacional e a generalizada, que é determinada pelo momento em que ocorre, como por exemplo apenas quando há a presença de dor com determinados parceiros ou em uma posição específica (situacional), ou quando é indiferente e ocorre sem critério prévio (generalizada).

Causas físicas da dispareunia

  • Malformações genitais, que podem dificultar a prática sexual;
  • Endometriose, que geralmente está associada a dor profunda, mas podendo também acometer o sistema nervoso;
  • Alergias ou dermatites, ou doenças autoimunes como líquen, causando dor até durante a fase do orgasmo;
  • Herpes genital, que gera desconforto em áreas específicas;
  • Cistite, que pode ser de causa infecciosa, ou mesmo asséptica, que caracteriza um quadro de dor sem contaminação da bexiga e do trato urinário;
  • Candidíase, que muitas vezes acaba confundindo o diagnóstico;
  • Redução da lubrificação vaginal (que pode ser efeito colateral do uso de medicamentos, como antidepressivos e anticoncepcionais), ou mesmo pela menopausa ou ausência de tempo e estímulo adequado para que essa ocorra;
  • Infecções sexualmente transmissíveis (IST’S);
  • Menopausa, principalmente quando há afinamento da mucosa (que é o tecido que reveste o canal vaginal), e dessa forma pode causar dor e até sangrar;
  • Pós-parto, especialmente quando a episiotomia (corte no períneo) é feita. Também é possível haver dispareunia em mulheres que fizeram cesariana;
  • Dor pélvica crônica, que pode ser de origem muscular, de causa vascular, e também pode ocorrer em casos de pós-operatórios, no surgimento de fibroses teciduais.
  • Distopias genitais, quando ocorrem descidas dos órgãos da cavidade pélvica e podem gerar dor e desconforto durante o ato sexual;
  • Espasmo muscular, caracterizando vaginismo;
  • Presença de dor neural e ausência de causas inflamatórias e infecciosas, podendo caracterizar vulvodínia (dor crônica na vulva – região externa da área genital feminina).

Causas emocionais da dispareunia

Sabe-se que todo problema físico pode levar a uma alteração emocional. Quando o sexo (que é um ato de prazer) se torna uma prática que gera dor e sofrimento, isso pode desencadear problemas emocionais e psicológicos.

Mas também, existem problemas emocionais que causam sensações físicas, alterações no corpo e podem gerar dor física.

Dessa forma, há causas emocionais que podem trazer a dispareunia à tona:

  • Falta de vontade de se relacionar com o parceiro. Quando a mulher não curte mais o parceiro, por exemplo, e não sente desejo, não se excita e acaba se sentindo obrigada a ter uma relação sexual com esta pessoa, por várias razões. Aí pode aparecer a dor, e tem mulheres que ficam nesta situação durante anos.
  • Crenças limitantes sobre sexo, como por exemplo: que é pecado, que não vai conseguir ter ralações sexuais prazerosas e sem dor;
  • Mulheres que tiveram traumas ou mesmo que apresentam medos e tabus relacionados a sexo, podem causar tensão muscular excessiva gerando uma disfunção conhecida como Vaginismo.
  • Violência em geral, mas também violência de gênero e outras formas de violência, mas inclusive violência sexual, abuso, estupro, podem também desencadear dor e incapacidade de vivenciar uma relação sexual.

Como tratar a dispareunia?

O tratamento busca resolver a causa que está provocando a dor na relação sexual.

Consultando o(a) médico(a) ginecologista

Na consulta com um médico ginecologista é possível avaliar se há alterações físicas, doenças ou anomalias.

É importante investigar causas que possam estar provocando a dispareunia, e descartar causas como infecções e variações anatômicas como, por exemplo, mulheres que podem tem mais pele na entrada da vagina e isso acaba dificultando a penetração.

Nos casos de doenças infecciosas há o uso de medicamentos, terapia hormonal em alguns casos, medicações para o tratamento da dor crônica e até mesmo cirurgias podem ser necessárias.

Consultando o(a) fisioterapeuta especializado(a) em uroginecologia

Na consulta com um fisioterapeuta especializado em uroginecologia é avaliada a função da musculatura de todo assoalho pélvico como também a sensibilidade e função dos nervos envolvidos.

Também poderá ser examinado se há interferência de articulações ligadas aos sintomas, como por exemplo, alterações posturais que comprometem a passagem dos nervos.

A reeducação muscular da região perineal é uma ferramenta muito utilizada no tratamento da dispareunia, além de técnicas de liberação dos tecidos musculares da vagina com recursos para reduzir a dor.

Aliado a tudo isso, os exercícios específicos para o períneo (feitos nas sessões de fisioterapia) são muito utilizados e eficazes no tratamento da dispareunia.

Muitas pessoas desconhecem a atuação da fisioterapia pélvica, em contrapartida, o sucesso no tratamento das disfunções sexuais é comprovada.

A fisioterapia pélvica é a área da ciência da saúde que analisa o funcionamento do aparelho genital, tratando as disfunções de origem muscular e neural.

Vale reforçar que a dispareunia pode trazer muito sofrimento e restabelecer a função sexual é uma área de excelência da fisioterapia pélvica.

Consultando o(a) psicólogo(a) especialista em sexualidade humana

A terapia psicológica é fundamental.

O psicólogo especialista em sexualidade é treinado para tratar e solucionar problemas emocionais e psicológicos que afetam diretamente o sexo.

A dor no sexo é um fenômeno complexo, vai além da situação física. Tanto a causa da dor quanto a interpretação que damos a essa dor frequentemente é influenciada por questões psicológicas e emocionais.

Por exemplo: o medo da dor já faz o nosso corpo reagir, se proteger, e com isso frequentemente aumenta a dor. Ou seja, um fator psicológico que é o medo, já pode intensificar a própria dor.

Um psicólogo especialista em sexualidade humana, através de uma avaliação correta (que se faz através de uma bateria de perguntas) identifica as questões psicológicas e emocionais que  podem ser a causa ou estar alimentando a própria dispareunia.

Identificando o que psicologicamente e emocionalmente está gerando a dispareunia, com técnicas psicológicas, resolverá o problema.

Veja apenas 3 exemplos, de infinitas possibilidades que surgem na psicoterapia:

  • Pensamentos automáticos como “Eu vou ter dor”, “Já sei que vai doer”, já podem gerar a dor.
  • Crenças irracionais como “Sexo é motivo de dor mesmo”, “Eu sempre tive dor” já são suficientes para alimentar a dor.
  • Pensamentos ansiogênicos como “E se ele me procurar hoje a noite, como vou desviar?”, “Não suporto ir para a cama com essa pessoa” já são suficientes para alimentar dores.

Com técnicas específicas da psicoterapia sexual, são trabalhados os pensamentos automáticos, as crenças irracionais, pensamentos ansiogênicos, dessensibilização sistemática, técnicas de relaxamento, técnica de resolução de crise, enfrentamento do problema, até educação sexual e muitas outras técnicas são utilizadas.

As técnicas são usadas sempre de acordo com cada cliente, em cada caso.

Com sessões de 50 minutos a 1 hora, quem está em terapia vai vendo a cada sessão, a cada semana, sua evolução ocorrer.

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Consequências da dispareunia na vida da mulher

Pessoas que sofrem de dispareunia podem apresentar dificuldade de se relacionar com outras pela presença de dor na intimidade, sentimento de frustração, tristeza e depressão.

Apesar da dispareunia ser uma dor na relação sexual, a pessoa acometida também pode apresentar dificuldade para realizar exames preventivos à saúde íntima, dificuldade na concepção de filhos e também é comum ter alterações no mecanismo de eliminação de fezes e urina, como constipação, urgência urinária ou retenção de urina.

Alguns indivíduos podem evitar contatos sociais que levariam a possibilidades de ter sexo, algumas pessoas até evitam festas, bares, e ambientes que estimulem contato com possiblidade de ocorrer o sexo.

Frequentemente continuam a se relacionar até ter o momento do sexo e aí acabam rompendo ou se distanciando de quem estavam convivendo.

Uma curiosidade: algumas mulheres que sentem dor durante  o sexo ficam casadas durante anos com homens que têm impotência porque é a combinação perfeita. O homem não consegue penetrar e a mulher não sente dor, e aí conseguem conviver.

Conclusão

As disfunções sexuais dolorosas femininas são tão comuns quanto asma, câncer, doenças do coração, mas elas esbarram na dificuldade de comunicação que todos temos ao falar sobre sexo e buscar o tratamento adequado, com fontes seguras de informação.

Sabemos que alguns conceitos acerca da sexualidade feminina estão tão profundamente enraizados e cercados de tabus que até as causas clínicas das disfunções são pouco debatidas.

Ter um ou alguns desses distúrbios dolorosos não faz a mulher imperfeita. A dinâmica do tratamento leva ao conhecimento e oportunidade de desenvolver uma sexualidade saudável e sem dor.

Ressalto que há poder em se conhecer, em entender seu próprio corpo, e em ser autêntica com sua jornada sexual.

Fontes:

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Drª Márcia Oliveira/Espaço Íntimo Fisioterapia

Márcia Oliveira é Fisioterapeuta e possui 13 anos de experiência. Ela atua no cuidado a Saúde Pélvica, tratamento das disfunções da região íntima, disfunções sexuais, perdas urinárias e disfunções intestinais. Também atua no cuidado do processo de desenvolvimento gestacional, no pré e pós parto e na atenção à Saúde da Mulher. 


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