O que é Endometriose? Entenda os sintomas

Só para você ter uma ideia, estima-se que a Endometriose atinja cerca de 1 em cada 10 mulheres em idade fértil, sendo que naquelas com dor pélvica e/ou infertilidade, este percentual pode chegar até 5 em cada 10 mulheres.

Índice do Artigo

1 – O que é Endometriose?
2 – Quais são os sintomas?
3 – Endometriose é hereditária? Pode virar câncer? Engorda?
4 – Formas de diagnóstico
5 – Por que se leva tanto tempo para descobrir?
6 – Endometriose tem cura?
7 – Formas de tratamento

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O que é endometriose?

A endometriose é uma doença na qual o tecido que recobre o útero internamente espalha-se por locais onde normalmente não deveria ser encontrado.

Esse tecido fora do lugar cresce e também “menstrua” com seus ciclos, levando a inflamação, formação de aderências e principalmente a dor que você tão bem conhece.

Entenda a endometriose

De onde vem a endometriose?

Todos os meses seu útero prepara sua camada interna conhecida como endométrio, como se fosse um ninho pronto para receber uma gestação.

Quando a gravidez não ocorre, esse tecido é eliminado na forma de menstruação.

Acontece que uma parte desse fluxo menstrual pode fazer o caminho contrário e retornar para dentro de você através das trompas, espalhando-se por locais onde não deveria estar como ovários, bexiga e intestino.

Em outras situações, a endometriose pode acometer também a cicatriz de cesária, a cicatriz umbilical e mais raramente órgãos distantes da pelve como o diafragma e até mesmo os pulmões.

Quais são os sintomas da endometriose?

A endometriose pode não apresentar sintomas e ser descoberta em uma consulta ginecológica de rotina ou pode apresentar infertilidade como único sintoma, mas na maioria das vezes aparece com os seguintes sintomas que podem ser bastante sugestivos.

1) Cólicas menstruais

Independente da sua idade, cólica menstrual principalmente intensa será sempre preocupante.

Este é o principal sinal de alerta, e se você já precisou algumas vezes procurar o hospital para ser medicada por este motivo, busque ajuda especializada o quanto antes.

2) Dor pélvica

Com o passar do tempo, as cólicas que antes ocorriam apenas durante seus períodos passam a incomodar também fora dos ciclos menstruais.

Não podemos esquecer que caso você tenha algum outro distúrbio intestinal como constipação, síndrome do intestino irritável, intolerância a lactose ou ao glúten por exemplo, pode haver um agravamento no quadro da dor pélvica causada pela endometriose.

3) Dor durante as relações sexuais

Este sintoma acontece geralmente pelas aderências formadas ou pela presença de endometriose causando inflamação no fundo da vagina.

Você pode começar a sentir um pequeno desconforto à penetração profunda que, com o passar do tempo, pode piorar chegando a tornar o ato sexual impraticável.

4) Sintomas urinários

Sangue na urina ou sintomas muito parecidos com uma infecção urinária que vem e vai pode ser um sinal de que você tem endometriose na bexiga.

5) Sintomas intestinais

Dor para evacuar, prisão de ventre ou sangramento, principalmente durante seus ciclos menstruais são um sinal de alerta para a possibilidade de você ter endometriose no intestino.

6) Infertilidade

Dificuldade para engravidar e cólica menstrual é um forte indicativo de endometriose. Entretanto, a infertilidade, mesmo sem dor, pode ser o único sintoma da doença.

Se você tem relações heterossexuais frequentes sem utilizar nenhum método anticoncepcional há mais de um ano e não engravidou, procure atendimento logo, pois o casal pode ter infertilidade.

Endometriose é hereditária?

Os mecanismos genéticos da doença ainda estão sendo estudados, mas há sim um maior risco de desenvolver endometriose, principalmente em suas formas mais severas, em mulheres com parentes de primeiro grau acometidas pela doença (mãe e irmãs).

Endometriose pode virar câncer?

A endometriose, apesar de todo sofrimento e prejuízos ao corpo da mulher que pode causar, é uma doença benigna ou seja, não se transforma em câncer.

O que preocupa um pouco é a endometriose acometendo o ovário, que é o endometrioma, mas nada foi ainda cientificamente comprovado neste sentido.

Endometriose engorda?

A endometriose em si não causa ganho de peso, mas o estado de ansiedade e sofrimento que geram sobre você podem sim levar a um aumento no apetite.

De que forma a endometriose é diagnosticada?

Diagnóstico da endometriose

O profissional mais capacitado para diagnosticar a endometriose deve ser um ginecologista experiente no assunto.

O diagnóstico é baseado na entrevista médica, no exame físico e em exames complementares de laboratório e imagem.

O diagnóstico definitivo de certeza é dado com biópsia obtida através de videolaparoscopia.

1) Anamnese

No início da doença, o exame físico, assim como seus exames de sangue e de imagem podem ser completamente normais.

Assim, para se chegar ao correto diagnóstico da doença, seu ginecologista deve ter além de capacitação técnica, sensibilidade, sendo capaz de ouvir suas queixas com atenção e se importar com elas.

2) Exame físico

Em fases mais adiantadas da doença, após a coleta do preventivo, o ginecologista atento pode visualizar lesões arroxeadas suspeitas de endometriose no fundo da vagina ou, por meio do toque ginecológico, perceber sinais sugestivos de aderências ou até mesmo nódulos dolorosos atrás do colo do útero.

3) Exames de sangue

Existe um exame que se chama Ca 125, entretanto não há unanimidade entre os especialistas no assunto sobre o real benefício da utilização do mesmo.

Isto porque o Ca 125 somente tem significado positivo nos casos avançados da doença e desde que coletado durante o período menstrual.

Dessa forma, somente seu médico irá decidir se você terá benefício ou não na realização deste exame.

4) Ultrassom transvaginal simples

No início da doença, o ultrassom pode não ser capaz de visualizar as lesões de endometriose e apresentar resultado completamente normal.

Ultrassom transvaginal com preparo intestinal ou ultrassom para mapeamento de endometriose: Nas mãos de um profissional experiente com bom equipamento, este exame tem se mostrado o melhor exame para diagnóstico de imagem das lesões, principalmente quando há suspeita de endometriose intestinal.

5) Ressonância Nuclear Magnética de Pelve

Utilizada para fins de complementação ao ultrassom com preparo intestinal com resultado inconclusivos e em casos avançados.

Assim como o ultrassom, a ressonância tem pouca utilidade nos casos iniciais da doença.

6) Videolaparoscopia

Procedimento que tem finalidades diagnósticas e terapêuticas.

Trata-se de uma cirurgia que utiliza uma microcâmera acoplada a uma ótica, parecida com uma endoscopia do estômago por exemplo, mas que no caso é introduzida em seu abdome por meio de um corte que atravessa a cicatriz umbilical.

Com a utilização de um micro instrumental cirúrgico, a videolaparoscopia possibilita a visualização, biópsia e remoção das lesões de endometriose inclusive em suas formas mais graves e invasivas.

Por que algumas pessoas demoram para descobrir que podem ter endometriose?

Descobrir que tem endometriose

Uma das maiores dificuldades é o tempo para o correto diagnóstico da doença.

Sabe-se que o intervalo entre os primeiros sintomas, que motivam a procura de assistência profissional, até o diagnóstico de certeza pode levar muito tempo; com relatos de mulheres que demoraram até 10 anos para receber o diagnóstico correto.

Quanto mais você demorar para buscar ajuda especializada e ter um diagnóstico correto, mais a endometriose pode avançar e dificultar o tratamento.

Por isso, tanto médicos quanto pacientes têm que ter sempre em mente que, apesar de culturalmente imaginarmos que cólica menstrual seja um sintoma normal para a maioria das mulheres, ela pode sim ser um sinal de uma doença grave, e que ter dor não é normal.

Outras vezes, quando não há sintomas importantes, o diagnóstico pode ser ocasional através de achados em um exame físico mais atento ou ao até mesmo quando se realizam exames de imagem indicados para outra finalidade.

Descobri em exames de imagem que tenho endometriose mas não sinto nada. É preciso cirurgia?

O diagnóstico ocasional de endometriose em pacientes assintomáticas (que não têm os sintomas) não é incomum e não indica cirurgia, salvo se houver acometimento do intestino grosso com risco de obstrução intestinal ou acometimento de estruturas específicas como intestino delgado ou apêndice.

Endometriose tem cura?

A endometriose deve ser considerada uma doença crônica, e uma vez que você tenha sido diagnosticada, o acompanhamento profissional especializado deve ser contínuo.

Sabemos que há uma tendência na progressão da doença sem o tratamento adequado, e em alguns casos, mesmo após instituído o tratamento clínico e/ou cirúrgico satisfatório, há risco da doença voltar e continuar progredindo.

Endometriose tem cura?

Poderíamos falar em cura talvez somente com o tratamento radical, que consiste na retirada do útero e dos ovários. Com esta abordagem, você teria uma maior chance de ficar livre da endometriose.

Entretanto, além dos riscos da cirurgia e da impossibilidade absoluta de ter filhos, seria estabelecida uma menopausa precoce com todas as suas consequências como:

  • ressecamento vaginal
  • diminuição de libido
  • ganho de peso
  • ondas de calor
  • maior risco de desenvolver doenças cardíacas e osteoporose
  • além de necessidade de uso de terapia hormonal

Todos esses efeitos colaterais e riscos do tratamento radical acabam deixando esta alternativa para situações também muito extremas.

Existe tratamento para a endometriose?

É possível ter qualidade de vida sem ter que sacrificar o útero e os ovários?

Sim, existe tratamento para a endometriose!

Entretanto, por tratar-se de doença multifatorial e com vasta gama de apresentações clínicas, a endometriose não permite o estabelecimento de uma regra universal para a condução de todos os casos, o que faz com que o tratamento deva ser sempre personalizado.

Tratamento personalizado

Inúmeros fatores, como a intensidade dos sintomas e o desejo de gestação imediato ou no futuro precisam ser considerados para decisão sobre o tipo de tratamento que você irá fazer, o mais ou o menos invasivo.

1) Analgésicos, anti-inflamatórios e opioides

Estes medicamentos têm por principal objetivo o alívio da dor.

Podem ser utilizados isoladamente ou em associação a outros tratamentos, porém não melhoram sua chance de engravidar nem são capazes de impedir a evolução da doença se esta for a tendência em seu caso.

2) Contraceptivos hormonais

Os anticoncepcionais podem ser utilizados nas suas mais variadas apresentações, quer seja na forma de comprimido, adesivo, anel vaginal, implante, injetável ou até mesmo dispositivo intrauterino hormonal.

Estes medicamentos oferecem uma boa resposta no controle dos sintomas principalmente de cólica menstrual e podem impedir a evolução da endometriose.

Porém, em muitas usuárias de anticoncepcionais, a doença continua avançando mesmo na ausência de sintomas.

Caso seu médico decida por esta alternativa terapêutica e você fique livre das cólicas menstruais, o que é muito bom, ainda assim é recomendável manter atenção sempre!

3) Tratamento hormonal

Existe uma medicação hormonal que foi estudada e desenvolvida para tratamento da endometriose a longo prazo apresentando bons resultados tanto no controle da dor quanto na evolução da doença com efeitos colaterais relativamente bem tolerados.

Tratamento hormonal

Uma desvantagem desta medicação é o fato de não poder ser considerada um anticoncepcional, indicando a necessidade do uso de um método contraceptivo não hormonal associado se você não tiver planos de gestação durante o tratamento.

Outra desvantagem é que, mesmo não sendo um anticoncepcional, esta medicação interfere temporariamente em sua fertilidade, não sendo portanto indicada caso você deseje tratar a endometriose e engravidar ao mesmo tempo.

4) Análogos do GnRh

Estas medicações colocam os ovários em um estado de “dormência” e você entra em uma espécie de menopausa reversível.

Como a endometriose depende da ação dos hormônios produzidos pelos seus ovários para sobreviver, ao bloquear temporariamente o funcionamento dos mesmos, conseguimos enfraquecer a doença.

Esta medicação tem indicação principalmente como complementação ao tratamento cirúrgico, como se fosse uma quimioterapia, ou então para melhorar os resultados de uma indução de ovulação para fertilização “in vitro” por exemplo.

Como seus efeitos colaterais são semelhantes aos de uma menopausa precoce, seu uso não pode ser realizado por longos períodos.

5) Cirurgia

Uma vez esgotadas todas as possibilidades de tratamento clínico está indicado o tratamento cirúrgico.

Nestes casos, a videolaparoscopia realizada por profissional capacitado deve ser considerada a técnica de escolha para a maioria das pacientes.

Casos complexos de endometriose profunda e endometriose intestinal são melhor abordados por equipe multidisciplinar, que pode incluir além do ginecologista um cirurgião do aparelho digestivo e um urologista por exemplo.

A videolaparoscopia é considerada o “padrão ouro” tanto para diagnóstico da endometriose quanto para a terapêutica, e tem como meta a remoção da totalidade dos focos visíveis sem abrir mão do cuidado em causar o menor dano possível à função dos órgãos acometidos.

Lembre-se: O mais importante é você sentir-se segura de que há, sim, um tratamento, e que não é normal sofrer todos os meses com cólicas massacrantes.

Procure um profissional que seja capacitado, que te escute e te compreenda. Com a ajuda adequada podemos vencer a endometriose!

Fontes:

  1. International Society for Sexual Medicine: https://www.issm.info/sexual-health-qa/what-kinds-of-sexual-problems-are-caused-by-endometriosis/
  2. Manual de Endometriose da FEBRASGO: https://www.febrasgo.org.br/images/arquivos/manuais/Manuais_Novos/Manual_Endometriose_Bayer.pdf
  3. Aspectos atuais do diagnóstico e tratamento da endometriose
    https://www.scielo.br/j/rbgo/a/8CN65yYx6sNVhjTbNQMrB5K/?lang=pt
  4. Quando os olhos não veem o que as mulheres sentem: a dor nas narrativas de mulheres com endometriose
    https://scielosp.org/article/physis/2018.v28n3/e280309/
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Esdras Camargos

Esdras Camargos é Médico Ginecologista e atua na área de cirurgia ginecológica minimamente invasiva e endometriose. Ele é Diretor da Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia de Santa Catarina (SOGISC).


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